Com apoio de Bolsonaro, Pacheco é eleito presidente do Senado
O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), 44, venceu nesta
segunda-feira (1º) a eleição para a presidência do Senado,
casa legislativa que vai comandar pelos próximos dois anos.
Pacheco vai suceder Davi Alcolumbre (DEM-AP), seu padrinho político nessa disputa, que se engajou completamente na articulação
por apoio e votos. Pacheco também era o candidato do
presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O senador mineiro obteve um total de 57 votos na disputa,
acima dos 41 necessários para se tornar presidente da Casa
-o que corresponde à maioria absoluta dos votos.
Sua concorrente mais direta na disputa, Simone Tebet
(MDB-MS) perdeu força na reta final da campanha,
principalmente após o racha em sua bancada o MDB.
Terminou a eleição com 21 votos.
A disputa começou com outros três candidatos: Major Olímpio
(PSL-SP), Lasier Martins (Podemos-RS) e Jorge Kajuru
(Cidadania-GO). Os três, porém, desistiram às vésperas da
votação e anunciaram apoio a Tebet.
Em discurso após sua vitória, Pacheco disse que as reformas
tributária e administrativa precisam ser enfrentadas com
urgência, mas sem atropelo.
"Muitas decisões importantes se avizinham. A votação de
reformas que dividem opiniões, como a reforma tributária e a
reforma administrativa deverão ser enfrentadas com urgência,
mas sem atropelo. O ritmo dessas e de outras reformas
importantes será sempre definido em conjunto com os líderes
e com o plenário desta Casa", afirmou.
Pacheco defendeu a importância da independência do
Senado em relação aos outros Poderes, apesar de o Palácio
do Planalto ter atuado para fortalecer sua campanha.
O novo presidente do Senado declarou que a Casa deverá
analisar medidas e reformas para o desenvolvimento
econômico do país, além de propostas para gerar empregos.
O senador mineiro está em seu primeiro mandato no Senado,
após quatro anos como deputado federal.
APOIO DO EX-PRESIDENTE DA CÂMARA
O então líder da bancada do DEM se tornou o nome de
Alcolumbre na disputa, após o próprio ser impedido de
disputar a reeleição. O ex-presidente do Senado tinha certeza
da sua recondução, tanto que articulou com antecedência o
apoio de muitos partidos.
No entanto, foi surpreendido em dezembro com a decisão do
STF (Supremo Tribunal Federal) que barrou a reeleição dos
presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, em uma
mesma legislatura.
Alcolumbre chegou a trabalhar com outros nomes, mas que
foram perdendo força ou recusaram entrar na disputa. Rodrigo
Pacheco então se mostrou a melhor opção.
Nas vésperas do Natal, o então presidente do Senado levou
seu apadrinhado para receber a benção de Bolsonaro, em um
almoço no Palácio do Alvorada. Publicamente, Bolsonaro
afirmou algumas semanas depois que sentia "simpatia" pelo
senador por Minas Gerais.
Pacheco herdou então parte das articulações de Alcolumbre e
chegou no dia da votação como grande favorito. Sua
candidatura recebeu o apoio de 10 bancadas no Senado
-DEM, PDT, PL, PP, PROS, PSC, PSD, PT, Rede e
Republicanos.
O grande apoio obtido foi fruto de uma estratégia agressiva
do grupo de Alcolumbre, que almejou fechar o máximo de
alianças enquanto os partidos rivais ainda discutiam nomes
para a disputa.
O então presidente do Senado ainda contava com o aval do
Planalto para negociar cargos e a liberação de recursos.
Além dos apoios de partidos, o grupo conseguiu "traições" em
bancadas que inicialmente estariam completamente com sua
principal rival. O golpe fatal foi conseguir rachar a bancada do
próprio MDB, forçando a senadora de Mato Grosso do Sul a
concorrer como avulsa.
O MDB pretendia se recuperar da derrota em 2019 e anunciou
que estaria unido em torno de uma única candidatura.
Simone Tebet foi confirmada no dia 12 de janeiro, após os
outros três pré-candidatos fracassarem em obter apoio de
outras bancadas.
Estavam na disputa o líder da bancada, Eduardo Braga
(MDB-AM) e os líderes do governo Bolsonaro no Senado e no
Congresso, respectivamente Fernando Bezerra Coelho
(MDB-PE) e Eduardo Gomes (MDB-TO).
Alguns membros da bancada, no entanto, manifestavam
reservas com Simone Tebet. Quando o apoio prometido a ela
de outras bancadas não se concretizou, cresceu a pressão
para que desistisse da candidatura. O argumento era que,
como a derrota parecia certa, seria melhor compor com os
rivais para obter espaço na Mesa Diretora.
Faltando menos de uma semana para a eleição, Alcolumbre
fez uma grande ofensiva para barrar a candidatura do MDB.
Em reunião com Braga, ofereceu à bancada a primeira
vice-presidência da Casa, a Segunda Secretaria da Mesa
Diretora e o comando de duas comissões, em troca da
adesão à candidatura de Rodrigo Pacheco.
Mesmo antes do encerramento das negociações, Tebet viu
que havia perdido o apoio de sua bancada e lançou sua
candidatura como avulsa. A senadora contava apenas com o
apoio da bancada do Podemos, que conta com nove
senadores - embora dois, Romário (Podemos-RJ) e Marcos
do Val (Podemos-ES) já manifestavam apoio a Pacheco -
Cidadania (com 3 senadores), PSL (com 2 votos) e parte das
bancadas do PSDB e do MDB.
INTERFERÊNCIA
Em discurso, antes do resultado da eleição, Tebet criticou a
interferência do governo na disputa. Ao distribuir emendas e
cargos públicos, aliados de Bolsonaro impulsionaram a
candidatura de Pacheco.
"Independência não para fazer oposição, mas para que
possamos exercer o nosso poder constitucional de legislar e
fiscalizar os demais poderes. Legislar visando o interesse
público. Fiscalizar para que sejamos freio e contrapeso a
qualquer tentativa de abuso de poder vindo de quem quer
que seja, seja qual for o governo, seja qual for o poder",
afirmou.
O uso da máquina pública também foi contestado por Martins,
Olímpio e Kajuru, que, antes de desistirem das candidaturas,
discursaram no plenário.
Senadores avaliam que a vitória de Pacheco representa uma
grande demonstração de força de Alcolumbre, que conseguiu o improvável de vencer a disputa e colocando na presidência o
representande de uma bancada com apenas cinco
parlamentares.
Parlamentares também acreditam que Pacheco deve manter
um posicionamento político parecido com o de Alcolumbre,
evitando embates com o Palácio do Planalto e abrindo espaço
para o avanço de pautas prioritárias na área econômica.
O senador, de perfil liberal, votou alinhado com o governo nas
matérias econômicas, mas contrariou nas pautas de costume.
Foi a favor, por exemplo, do decreto legislativo que derrubou
os efeitos de um decreto presidencial que flexibilizou o porte
de armas.
Durante a campanha, contrariando o governo, defendeu a
prorrogação do auxílio emergencial, mesmo que significasse
furar o teto de gastos, como afirmou em entrevista ao jornal
Folha de S.Paulo.
Por outro lado, evitou fazer críticas à condução do governo no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
Em um aceno ao Planalto, sinalizou que não deve avançar no
Conselho de Ética as denúncias contra o filho mais velho do
presidente, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), por conta do
caso das rachadinhas. Pacheco defende que o conselho não
deve analisar casos anteriores ao mandato dos parlamentares.
Em relação ao MDB, trata-se da segunda derrota seguida do
partido que detém regularmente a maior bancada do Senado-
atualmente conta com 15 senadores.
Em 2019, a sigla rachou após disputa interna que terminou
com o apoio ao nome de Renan Calheiros (MDB-AL). Sem
aceitar o resultado, Simone Tebet lançou sua candidatura
como avulsa e depois articulou para a vitória de Alcolumbre.
Dois anos mais tarde, o partido buscava resgatar a regra da proporcionalidade, que reserva a presidência para a maior
bancada da Casa. No entanto, sem conseguir fazer decolar a
candidatura, o partido preferiu negociar para evitar sair de
mãos vazias da eleição.
O movimento é visto como um rebaixamento do partido, que
dominou o Senado em praticamente todo o período da Nova
República -essa é apenas a terceira vez que não vai presidir a
Casa. O próprio Calheiros vociferou em um grupo interno de
WhatsApp, afirmando que o partido desistiu da luta por
"carguinhos".
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